18 de abril de 2011

DE QUEM É A CULPA?




O nome do assassino vem seguido pelos mais variados adjetivos. A casa onde morou é pichada, apedrejada, excomungada pelos vizinhos, amigos e familiares das vítimas ou apenas por pessoas que se indignaram com a atitude covarde de uma pessoa socialmente desajustada e que com o passar dos anos se transformou num psicopata.

E de quem é a culpa? A resposta mais fácil é dizer que a culpa é dele. Vendo com olhos que buscam enxergar um pouco além do óbvio, iremos perceber que existem muito mais culpados do que o infeliz Wellington.


Desde criança ele foi discriminado, foi filho adotivo, apesar de receber o amor de mãe. Na escola era o menino que os outros chamam de “pele”, aquele que é tratado como um idiota. O “pele” era posto na roda.


Hoje, um “pele” na roda é uma criança que sofre bullying. Sempre foi uma covardia, desrespeitar as diferenças, independente do nome dado através das gerações.


Sua personalidade reservada, a dificuldade de se expressar, de expor seus sentimentos, o seu medo e entendimento do mundo o fizeram um covarde. O covarde cresceu, ruminando seu ódio por anos a fio. Com a morte da mãe adotiva, ele perdeu a única e frágil estrutura que tinha para mantê-lo inserido na sociedade.


Escondido no anonimato, atacou as únicas pessoas que ele poderia subjugar sem o risco de reação. As crianças.


Durante todos esses anos, ninguém percebeu o que acontecia com a criança Wellington?


Não houve nenhum olhar de atenção para aquele menino excessivamente tímido?


Ninguém viu nada de diferente no menino?


As escolas de baixa renda não permitem o luxo para ter profissionais que olham para crianças com comportamentos diferenciados.


A escola não é apenas um local para se aprender a contar e escrever. É também uma extensão do lar, da vida social e da formação da criança, que precisa de muita atenção e o professor só, não tem como fazer tudo. Já faz muito com o pouco que ganha. Precisa de apoio de outros profissionais que as escolas mais nobres têm.


O maior responsável é a falta de vontade política de nossos governantes, que não investem na educação como deveriam, que não enxergam aqueles brasileiros com menor poder aquisitivo e que são a grande maioria no Brasil. Esses são os que têm a maior responsabilidade.


O “modelito” que alimentam é o do dinheiro a qualquer preço.


A vida é um privilegio dos que mais podem. Isso a gente vê relembrando uma história, onde um grupo de psicopatas em Brasília tocara fogo num índio que dormia num ponto de ônibus. Estava no ponto de ônibus, porque a pousada que eram depositados pela FUNAI fechava suas portas a partir de determinado horário e não os deixavam entrar. Eram índios. Podem ficar na rua como os miseráveis que vemos diariamente atirados aos becos e as sarjetas.


Um desses psicopatas como punição recebeu a oportunidade de ser admitido num concurso público, para segurança, cujo pai era o Ministro do órgão que fez o concurso. Com a autoridade de Ministro que tinha, aumentou as vagas para o cargo de segurança para que o filho pudesse ser classificado e assim admitido. Nada ilegal, apenas imoral. Inicialmente ele não foi classificado. Talvez por ter usado líquido inflamável para atear fogo no índio, recebeu uma premiação extra, um bônus. Após ser admitido como segurança foi promovido para dentista, já que tinha acabado de se formar. Na época do crime, ele era menor e obteve os benefícios da lei. O rigor da lei é só usado para os inimigos.


São esses personagens os maiores culpados da tragédia de Realengo, que unidos a patologia dos infelizes, fazem nossos corações se encherem de tristeza e vergonha, por permitir fatos assim continuarem acontecer.


Reagimos tão mal quanto votamos, nossas ações são inócuas e ineficientes.


Somos todos culpados, porque somos omissos no rumo que desejamos para o nosso futuro.