23 de janeiro de 2012

A jornada continua... Um tur de quase 3.000 km


O dia não estava de sol a pino, tempo nublado. Melhor, o calor não era infernal.



Dia 13 de janeiro começa a viagem com destino a Brasília. A estrada já é uma velha conhecida. A subida da Serra de Petrópolis, com muitas curvas e um trânsito intenso de caminhões.  Até Juiz de Fora a estrada é ótima. Tem um pedágio caro porém compensado pela segurança  que a estrada oferece.  Chegando ao trevo que leva para Ouro Preto uma carreta atravessa  a estrada e interdita a pista. Andei mais de 5 km com trânsito parado. Perguntei a um motorista que estava com cara de impaciente há quanto tempo estava lá. Ele me disse que
tinha mais de 4 horas. Salve a moto, sai pelo  canto da estrada e segui o meu caminho. A noite já vinha caindo, o horário de verão engana.  O dia está claro mais as horas são adiantadas.
Entrando em Belo Horizonte. Dei uma parada e um pequeno passeio  e segui a viagem.  Para não seguir a noite parei em Paraopeba . Cento e poucos quilômetros de BH.  No outro dia peguei a estrada cedo, mas antes tomei um bom e saboroso café da manhã. Todo esse tempo foi sem chuva mas com ameaças.




No fim do dia 14 já chegando a Brasília, estava perto de Valparaíso de Goiás, a chuva começou a castigar. Lembrei da bronca que dei na minha filha por ela ter jogado fora a minha roupa impermeável por estar descosturada.  Mas é filho. Fazer o quê? Já tinha jogado fora mesmo. Lembrei de Vinicius: “Filhos...  Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-lo?”  
Sorri e confesso que adoro tê-los.
Foi uma semana em Brasília onde coloquei a vida candanga quase toda em ordem. Revi todos que amo, ri muito, visitei quem  há muito não via. Só noticia boa. Uma estada maravilhosa. Mas o meu tempo já tinha dado e precisava voltar para dura realidade carioca.
Andrea foi para Sâo Paulo levar a filha no  Hopi Hari. Estava com uma saudade danada da moça. Resolvi voltar para o Rio via São Paulo. Matar a saudade que me apertava o coração. O plano  da viagem era pegar em Cristalina o caminho de Uberlândia e de lá a Via Anhanguera  em São Paulo, passando por Ribeirâo Preto e lá na frente pegava a Bandeirantes até São Paulo. Ficaríamos no centro no Hotel Mercury na Rua Padre João Manoel, perto da Avenida Paulista. 
Pé na estrada. Sai de Brasília no dia 20 de janeiro  bem cedinho pra chegar  com dia claro em São Paulo. Como em toda viagem de moto, as paradas são freqüentes, entre cento e cinqüenta  e duzentos quilômetros.  Você para, relaxa e estica. Daí toca o pé na estrada de novo. Dei uma parada em Cristalina para comprar uma lembrança para Andrea. Achei uma ametista linda. Depois parei novamente em Catalão. A cidade cresceu muito desde a última vez que estive lá. Perguntei como andava Três Ranchos. Disseram-me  que o nível da água da barragem ainda não está no ponto ideal.


Três Ranchos é uma cidade que fica a margem de um grande lago formado

pela barragem que represa o rio Paranaíba, o lago formado recebeu o

nome de Lago Azul.  Muito lindo o local e o lago é enorme. 
O turismo náutico é intenso na região.

Seguimos a viagem. Eu e a minha moto. Deixamos Goiás para trás e  entramos em Minas. Passamos por Araguari, Uberlândia e Uberaba. Depois de  “ Beraba”, mais trinta e poucos quilômetros  a frente pegamos a Via Anhanguera. Salve! São Paulo! Onde tudo funciona. São 11 pedágios até a capital. Só que motocicleta não paga pedágio. A estrada é ótima, bem sinalizada, o asfalto liso. Tudo de bom.  A viagem estava tranqüila sem surpresas.  Oitenta quilômetros  antes de Ribeirão Preto sinto um balançado diferente, que vai ficando  mais intenso. Estou me equilibrando em cima da moto. Evito o freio. Desacelero e mantenho a embreagem acionada e venho dando leves toques no freio dianteiro até a moto parar. O pneu traseiro da moto está furado. No meio da estrada, sem nenhum posto de gasolina ou cidade próxima. Tiro a moto  do meio da estrada a duras penas. Começa a sorte virar para o meu lado. Diante das circunstâncias, achar uma equipe de manutenção da estrada naquele local é um achado, uma sorte. O rapaz me passa o 0800 da empresa responsável pela administração da estrada. Em pouco tempo me aparece um guincho e propõe a levar-me até um posto de gasolina a quarenta quilômetros dali. Por mim tudo bem. Aquela  altura dos acontecimentos, diria Big Jonh, tudo era festa. Fui conversando, eu e o motorista do guincho. Ele me diz ser aficionado por moto, mas o seu estilo são as esportivas. O negócio dele é velocidade. Pelas histórias que me contou achei que o garoto é um forte candidato a defunto. Falei isso para ele. Não sei se falou para me impressionar ou se era isso mesmo que ele pensava. Se for o que pensava. Coitado da família dele. Vai perdê-lo rapidamente.
Antes de chegar ao posto achamos uma borracharia, pedi para parar e fui ver se tinha borracheiro. Fui recepcionado por um simpático vira-lata latindo forte e intensamente. Atrás dele vinha um sonolento borracheiro. Depois entendi a preguiça do rapaz. Estava esperando o cunhado que saiu às onze horas da manhã para buscar o almoço e já eram mais de uma hora e o cara não tinha voltado. O borracheiro que tinha um forte sotaque mineiro e reclamava muito do cunhado.
Um pneu traseiro de uma Shadow  é trabalhoso para tirar. Ainda mais para um cara que nunca tinha feito esse serviço antes. Depois de 4 horas ele aprendeu a tirar o pneu e a colocar no lugar. Com a minha
ajuda.  O rapaz era teimoso. Segui minha viagem. Lembrando das reclamações do “mineirinho”. Coitado do cunhado, corria o risco de tomar umas “pebas” quando voltasse. Sem o almoço dele era perigoso o cunhado até morrer. bem, até a hora de eu ir embora o cunhado não tinha chegado. O “mineirinho”  tava “ brabo”.
Faltando  uns quinze quilômetros para pegar a Bandeirantes a chuva caiu e caiu com vontade. Novamente lembrei da minha filha. Cheguei a pensar em dar uns puxões de orelhas nela. Mas passou rápido à vontade.
Quando a vi no Rio dei foi um monte de beijos e abraços.  Cheguei  no hotel em São Paulo e já eram quase dez horas da noite. Andrea estava nervosa porque eu não atendia ao telefone. Tomei uma bronca, mas ganhei mais beijos e carinhos do que bronca. Nada com um bom banho quente, um jantar italiano na Cantina do Piero e uma cama confortável para repor as energias depois de mil e duzentos quilômetros de estrada.
No dia seguinte saímos para tomar um café da manhã especial que tem ali na Hadock Lobo, a padaria é um luxo tem todos os quitutes que você imagina, sonha e deseja. A fila era muito grande e optamos por outro menos glamoroso mas com tantos quitutes. Este na Avenida Paulista.


No caminho nos deparamos com uma passeata em Defesa dos Animais. Fiz uns cálculos. Tinha uns três quilômetros de gente enfileirada a rua tem aproximadamente nove metros. Isso daria vinte e sete mil metros
quadrados.  Se levar em conta, um pelo outro uma pessoa ocupando um metro quadrado. Tinham vinte e sete mil pessoas clamando pelos animais. Justo. Muito justo. Mais justo seria se estivessem clamando contra a corrupção que assola o país, pela mudança do modelo de eleição que estimula a roubalheira. O voto distrital é a melhor maneira e a mais democrática para controlar as ações dos nossos políticos. Os parlamentares são contra. Sem a bagunça e falta de controle é mais fácil desviar recursos e mesmo sendo pegos. Só dá mídia. Cadeia mesmo só para ladrão de galinhas. Mas enquanto essa disposição não vem, vamos às ruas pelos animais.

Domingo mesmo, antes do almoço sigo meu caminho para o Rio de Janeiro. Estou a quatrocentos e cinqüenta quilômetros do Rio.
 Monto a bagagem no bagageiro da moto, com poucos quilômetros sinto a moto muito inclinada para trás.  Fico pensando que talvez tenha colocado muita carga no bagageiro, a vinda de Brasília tinha menos tralhas,  isso está levantando a roda dianteira. Isso é perigoso, tira o equilíbrio e a capacidade de frenagem. O freio dianteiro é o que faz a moto parar. Se o pneu não estiver aderindo direito pode travar a roda e a moto não vai parar como deve. Resolvi mudar a arrumação, tirei o “case” que estava no bagageiro e coloquei no banco traseiro e as mochilas que eram leves foram para o bagageiro. Pronto. Era outra moto. Sentia agora  ela no chão.  Segui viagem, lá pelas duas da tarde parei num Frango Assado para um almoço leve, a base de saladas. Os pedágios na Dutra motocicleta paga. Começam por R$ 1,10 e chegam a R$ 4,90. Chegando ao Rio vi duas meninas num Gol. Pela cara delas pareciam nervosas. Parei para saber se estavam precisando de alguma coisa. Estavam. O carro tinha fervido. Levei o carro até uma Polícia Rodoviária Federal para que ficassem em segurança e ali elas acionaram o seguro. O defeito era simples, mas podia complicar. Principalmente nas mãos inexperientes de duas meninas que não tinham muito talento para mecânica.
E assim cheguei ao Rio no fim da tarde de domingo. Com dia claro e uma saudade carioca de ver o Cristo, o Pão de Açúcar e o mar. Salve o Rio de Janeiro! Até a próxima viagem.




Mal cheguei recebi um telefonema da Bahia, estão me chamando para um trabalho em Salvador. 
Vai que dá certo. Olha a gente aí na estrada indo para Salvador. Com fé e acarajé vamos para Bahia.